domingo, 28 de março de 2010

BULLYING TAMBÉM ATINGE E ESTIGMATIZA UNIVERSITÁRIOS

Especialista em Inspeção Escolar pela FINON, em Docência Universitária pela UNIUBE, em Psicopedagogia Institucional pela UCB e Graduada em Pedagogia com Supervisão Escolar pelo CESUBE.www.angelaadriana.com.br







Especialista em Inspeção Escolar pela FINON, em Docência Universitária pela UNIUBE, em Psicopedagogia Institucional pela UCB e Graduada em Pedagogia com Supervisão Escolar pelo CESUBE.www.angelaadriana.com.br

1. Introdução

A docência no magistério do ensino superior requer exigências de naturezas complexas tanto quanto aos demais níveis da educação básica. Portanto, os mesmos conflitos enfrentados em processos educacionais de crianças ou adolescentes, podem aparecer no nível superior. Neste sentido, o Bullying exemplifica-se como um fato freqüente nas sociedades atuais com grande incidência em ambientes educacionais, como uma situação complexa, exigindo acompanhamentos de docentes e, em casos extremos, uma ação terapêutica.
Conhecer e refletir sobre o Bullying, visando proporcionar sugestões metodológicas educacionais aos docentes superiores foi o objetivo desta pesquisa bibliográfica.
No início dos anos 70 o professor norueguês Dan Olweus iniciou uma pesquisa sobre a violência entre alunos nas escolas, porém as autoridades não se interessaram pelo assunto. Em Columbine (EUA) dois adolescentes vítimas de Bullying, invadiram a Escola, mataram 14 colegas e um professor, este fato alertou Dan, mais ainda, para a gravidade do assunto.
Em 1978 a 1993 Olweus desenvolveu um trabalho na Universidade de Bergen (Noruega) sendo pioneiro em chamar atenção para o suicídio das vítimas do Bullying, ele pesquisou 84 mil estudantes e constatou que para cada dez suicídios, sete das vítimas estavam envolvidas com Bullying.
No Brasil os casos mais notórios ocorreram no ano passado em Remanso-BA, quando um adolescente de 17 anos matou dois e feriu três, porque não suportou mais as humilhações que o grupo lhe causava. E em 2003, na Cidade de Taíuva – SP, Edimar Aparecido de Freitas, quando um estudante de 18 anos, invadiu a escola onde estudava, atirou em 5 pessoas e se matou. Obeso desde a infância ele não suportava mais as gozações feitas por um grupo de colegas.
Como o Bullying acontece em Instituições escolares de diversos níveis, o professor do ensino superior também deve refletir principalmente sobre sua prática educativa e este problema avassalador. As ações pedagógicas devem se flexibilizar à teoria competente, caso contrário ela não terá sentido. “Acredito que temos tratado nossos alunos como generalidades abstratas, esquecendo suas histórias e identidades. Quem é o aluno que chega no ensino superior hoje? Quais são as suas expectativas?” (SOUZA, 2002, p. 32). Como um professor universitário pode intervir nesta prática no cotidiano da Instituição do ensino superior?
Para realizar tal trabalho é necessário antes de tudo, conhecer e conseqüentemente, identificar o Bullying.
II. Breve Conceito de Bullying
Bullying é uma palavra de origem inglesa que não tem tradução específica para a língua portuguesa. É derivada do verbo inglês “bully”, que significa usar de poder para subordinar alguém. No Brasil, seu significado compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas adotadas por uma ou mais pessoas contra outra, numa relação desigual de poder. Dentre estas opressões aparecem apelidos, trotes, todos os tipos de abusos, violências físicas e verbais, intimidações, piadinhas, xingamentos, furtos, discriminações, ameaças, assédios, exposição da vítima a situações ridículas, racismo, xenofobias, alienação e outras mais. O índice de maior ocorrência do Fenômeno Bullying, de acordo com Cléo Fante, acontece dentro de Instituições Educacionais, mais especificamente entre crianças de 7 a 18 anos, tendo como protagonistas: a vítima, o agressor e o espectador. Entretanto, evidências comprovam que ele é reconhecido em todos os lugares onde aconteçam relações interpessoais.
As causas do Bullying variam entre falta de base familiar; ausência de limites das crianças; aumento da violência que é freqüente e insistentemente tratada pela mídia de forma natural, sites de relacionamento que o propagam, etc.
III. Interferências do Bullying na Universidade
Este grave problema social também atinge o ensino superior, exigindo de seus docentes certas reflexões e ações. “Os campos da educação superior ignoram uma grande massa da população, tanto por omissão quanto pela ação” (BUARQUE, 2003, p.14). Esta omissão do professor e da maioria das Instituições de ensino superior tem contribuído para que o Bullying se alastre rapidamente, comprometendo o nível de desenvolvimento dos estudantes.
O trote universitário, por exemplo, é uma forma de Bullying, em que a vítima pode ou não tolerá-lo, e muitas vezes o faz para não ficar antipatizado pelo grupo. Alguns alunos chegam até a abandonar os estudos devido a bárbarie dos trotes realizados. Neste sentido pode-se afirmar que a evasão escolar é uma conseqüência do Bullying.
Atitudes abusivas por parte de professores, que utilizam o recurso “avaliação” para punir aqueles que pensam ou agem de forma diferente da imposta, devem dar lugar a avaliações significativas com o objetivo de reestruturar o planejamento das aulas, alterar a metodologia e até a postura do professor e, jamais como opressão ao aluno.
São comuns as situações em que estudantes de Cursos de Medicina, Direito, Odontologia e Engenharia discriminam cursistas de outras áreas. Neste caso, cabe ao professor intervir diretamente sobre estes grupos, lembrando-lhes sobre a importância de cada profissional na sociedade e estimulando a valorização do humano. Negligências neste sentido têm causado tragédias em vários países. Em 2007, um jovem estudante de 23 anos, aluno do último ano do curso de Letras, invadiu a Universidade Virgínia Tech, nos EUA. No Campus, ele se dirigiu à residência estudantil e abriu fogo, matando 2 estudantes. Em seguida, caminhou até o prédio da Faculdade de Engenharia e atirou na cabeça de um professor, partindo depois para os alunos, matando 32 e ferindo 29 pessoas, suicidando em seguida.
A xenofobia e o racismo presentes em várias instituições merecem uma atenção especial dos docentes. No Brasil em 2007, supostos vândalos atearam fogo à porta do alojamento de quatro alunos africanos na Casa do Estudante Universitário (CEU), na Universidade de Brasília (UnB).
São comuns também, os casos de cursistas serem vítimas deste fenômeno em relação às pressões psicológicas sofridas quanto aos trabalhos científicos, atitudes arrogantes e falta de apoio dos orientadores - principalmente por diversidades ideológicas - e toda a intimidação causada pela banca examinadora dos Trabalhos Científicos. A utilização de materiais que elevem a autoestima dos candidatos, precedendo as apresentações de TCCs, contribui muito para que eles possam realizar uma boa socialização. Ainda em relação aos TCCs, o Bullying muitas vezes acaba travando a produção intelectual do pesquisador, impedindo-o de expor suas idéias, ler obras de determinado autor ou citar determinados pensamentos, comprovando sua condição de vítima. “Uma dessas pessoas desmedidas e raivosas proibiu certa vez estudante que trabalhava dissertação sobre alfabetização e cidadania que me lesse. ‘Já era’”. (FREIRE, 2007, p.35).
A marginalização social dentro da Universidade é uma característica comum nas vítimas do fenômeno que está intimamente ligado a posições desiguais de poder e apresentam conseqüências para além das instituições em questão, se estendendo por toda a sociedade.
IV. Bullying e a metodologia do docente universitário em sala de aula
O professor deve saber reconhecer um estudante que sofreu ou sofre algum tipo de Bullying. O docente deverá observar os seus alunos, dedicando atenção especial àqueles que apresentarem qualquer característica que indique repressão e estabelecer um laço de afetividade com eles. A utilização de dinâmicas que abordem regras de convivência e respeito, envolvendo momentos reflexivos, ajuda muito quando o caso é diagnosticado no início. Uma habilidade que o docente deve desenvolver antes de qualquer ação é o ouvir ativo, captando o que há por trás da fala e o que o corpo do aluno está revelando. Souza (2002) faz o seguinte comentário sobre o ouvir ativo:
O processo de decodificação dos sentimentos na fala do aluno é crítico no processo de ouvir ativo. O ouvir ativo não é uma mágica, algo que o professor tira do chapéu – é um método específico para colocar em prática um conjunto de atitudes em relação ao aluno, a seus problemas e a seu papel como facilitador. (SOUZA, 2002, p. 68 e 69)
Ao ouvir ativamente seu aluno o professor poderá perceber que no âmbito da saúde física emocional há uma queda na resistência imunológica da vítima. Nestas situações, além de adequações metodológicas, o docente poderá sugerir que o aluno procure ajuda médica especializada.
O renomado educador Paulo Freire deixou em seu legado, inúmeras reflexões sobre atitudes opressivas. Ao lutar por uma mudança radical na educação, Freire acreditava que todos os cidadãos são iguais, tem direito de ir e vir, de pensar devem respeitados e ter criticidade suficiente para discernirem o certo e o errado e conhecer seus direitos. Portanto, um universitário tendo, que se tornar uma marionete de seus colegas ou do sistema educacional repressor, pode se revoltar invadir a universidade e cometer atos de violência contra seus opressores sejam eles quem for.
Diante de tal situação se torna necessária uma intervenção direta sobre este tema de preocupação mundial. Mudar a cultura perversa da humilhação e da perseguição no ambiente de aprendizagem, está ao alcance de todo profissional envolvido na educação. A complexidade do tema exige que o docente busque informações em todos os aspectos, a fim de esclarecer o assunto aos alunos. Os trabalhos envolvendo esta temática devem ser realizados por toda a equipe docente e para tal, a interdisciplinaridade é uma forte aliada no processo de conscientização dos estudantes.
Em reuniões pedagógicas o assunto deve merecer atenção especial, os docentes relatam incidentes ocorridos em classe e como fizeram as intervenções e também solicitam à Instituição, que ofereça palestras, mesas redondas, cursos de extensão e Especialização sobre o Bullying.
Como o Bullying também acontece de forma virtual é necessário que os professores mantenham diálogo reflexivo constante com a turma, visando alcançar a criticidade dos alunos sobre jogos, sites de relacionamentos, e-mails, e diversas outras formas de se agredir ou ser agredido virtualmente.
Um Programa de conscientização e combate ao racismo e a Xenofobia Institucional, evitará atitudes preconceituosas, mesmo que não intencionais. Este trabalho poderá ser realizado com filmes, textos, reportagens, etc.
Abolir definitivamente o trote abusivo, através da conscientização dos alunos e de sugestões de trotes solidários, enfatizando uma recepção amigável aos novatos.
Respeitar a individualidade, o próprio pensamento e a liberdade de expressão, valorizando sua cultura e seu tempo-espaço de cada aluno.
Cury faz a seguinte reflexão sobre uma forma revolucionária de educar:
Bons professores educam para uma profissão, professores fascinantes educam para a vida. Professores fascinantes são profissionais revolucionários. Eles mudam paradigmas, transformam o destino de um povo e um sistema social sem armas, tão somente por prepararem seus alunos para a vida através do espetáculo de idéias. (CURY, 2003 p. 79).
Educar para uma vida mais humana, em que o cidadão reconheça seu lugar e valor na sociedade, não é tarefa para um dia e tão pouco para um conteúdo específico... É responsabilidade de todos que se intitulam seres humanos e, principalmente, professores. Enquanto a docência não assumir seu papel de educar para a vida, problemas sociais graves como o Bullying, continuarão a tirar a tranqüilidade e a vida de nossos jovens.
V. Considerações finais
Nas últimas décadas a permissividade na educação cresceu muito e com isso o aluno ficou muito livre, gerando a ausência de limites. Completamente sozinho e sem rumo, o jovem tende a aliar-se a grupos que lhe permitam sentir segurança e ao mesmo tempo, liberar sua fúria contida pela necessidade de chamar a atenção para si. Neste caso, o sujeito em questão se transformará em um agressor. Todavia, se ele não conseguir exteriorizar seus sentimentos poderá se transformar em uma vítima, e em ambos os casos o protagonista é, também uma vítima de um aglomerado de situações experimentadas por ele. Vítima e agressor ingressam no Ensino Superior e lá continuam suas práticas.
Quanto mais rápido o Bullying for reconhecido como o grave problema que é, mais chances poderão surgir para combater este quadro horrível em que se encontram os envolvidos neste fenômeno. É necessário que todos envolvidos com a Educação se conscientizem sobre a gravidade do problema e elaborem um Plano de ação a ser desenvolvido no ambiente escolar. Criar uma cultura anti-bullying deve ser responsabilidade de todo cidadão. Ações que despertem os alunos para o respeito, amor, companheirismo, ética, criticidade, compreensão, amizade, valores humanos, harmonia, sabedoria, e tantas outras virtudes - que atualmente se encontram totalmente desvinculadas dos conteúdos escolares - têm que ser levadas diariamente ao ambiente educacional. Estas mesmas ações devem ser desenvolvidas entre os docentes, visando amenizar o abuso de poder muitas vezes causado pelos títulos de professor, especialista, mestre ou doutor, que acaba oprimindo o aluno.
Ouvir um aluno em suas queixas ou particularidades pode identificar vítimas, agressores, evitar que o fenômeno se torne um círculo vicioso e, conseqüentemente, preservar a vida de jovens estudantes que certamente serão protagonistas de uma realidade bem diferente da que o Bullying reserva aos seus praticantes e envolvidos.
VI. Referências:
CONSTANTINI, Alessandro. Bullying, como combatê-lo? São Paulo, SP: Itália Nova, 2004.CURY, Augusto. J. Pais Brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro, R.J: Sextante, 3 ed.. 2003.FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2 ed. Ver. Campinas, SP: Verus, 2005.FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13 ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1983.______.Pedagogia da Autonomia. 36 ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2007.______.Educação como prática de liberdade. 3 ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1971.SOUZA, T. L. Vera; SILVA, Moacyr da; FURLANE, T. M. Lúcia; SCOZ, Beatriz; MAHONEY, A. Abigail. As relações interpessoais na formação de professores. São Paulo, SP: Loyola, 2002.BUARQUE, Cristovam. A universidade numa encruzilhada. Trabalho apresentado na Conferência Mundial de Educação Superior – UNESCO - Paris, 23 a 25 /06 /2003.FANTE, Cléo. Palestra: Fenômeno Bullying. Apresentada na FMTM – Uberaba, MG – 2006BONFANTI, Cristiane. Incêndio Criminoso durante a madrugada. www.secom.unb.br , disponível em 28/12/07LEITE, Tainah. Trote e violência: www.ufmg.br , disponível em 04/12/07.Massacre na Virgínia. www.folha.com.br , disponível em 23/12/07.
Última atualização em Sex, 20 de Março de 2009 09:42


Escrito por Angela Adriana de Almeida Lima
Sáb, 21 de Fevereiro de 2009 07:49

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