domingo, 28 de março de 2010

BULLYING TAMBÉM ATINGE E ESTIGMATIZA UNIVERSITÁRIOS

Especialista em Inspeção Escolar pela FINON, em Docência Universitária pela UNIUBE, em Psicopedagogia Institucional pela UCB e Graduada em Pedagogia com Supervisão Escolar pelo CESUBE.www.angelaadriana.com.br







Especialista em Inspeção Escolar pela FINON, em Docência Universitária pela UNIUBE, em Psicopedagogia Institucional pela UCB e Graduada em Pedagogia com Supervisão Escolar pelo CESUBE.www.angelaadriana.com.br

1. Introdução

A docência no magistério do ensino superior requer exigências de naturezas complexas tanto quanto aos demais níveis da educação básica. Portanto, os mesmos conflitos enfrentados em processos educacionais de crianças ou adolescentes, podem aparecer no nível superior. Neste sentido, o Bullying exemplifica-se como um fato freqüente nas sociedades atuais com grande incidência em ambientes educacionais, como uma situação complexa, exigindo acompanhamentos de docentes e, em casos extremos, uma ação terapêutica.
Conhecer e refletir sobre o Bullying, visando proporcionar sugestões metodológicas educacionais aos docentes superiores foi o objetivo desta pesquisa bibliográfica.
No início dos anos 70 o professor norueguês Dan Olweus iniciou uma pesquisa sobre a violência entre alunos nas escolas, porém as autoridades não se interessaram pelo assunto. Em Columbine (EUA) dois adolescentes vítimas de Bullying, invadiram a Escola, mataram 14 colegas e um professor, este fato alertou Dan, mais ainda, para a gravidade do assunto.
Em 1978 a 1993 Olweus desenvolveu um trabalho na Universidade de Bergen (Noruega) sendo pioneiro em chamar atenção para o suicídio das vítimas do Bullying, ele pesquisou 84 mil estudantes e constatou que para cada dez suicídios, sete das vítimas estavam envolvidas com Bullying.
No Brasil os casos mais notórios ocorreram no ano passado em Remanso-BA, quando um adolescente de 17 anos matou dois e feriu três, porque não suportou mais as humilhações que o grupo lhe causava. E em 2003, na Cidade de Taíuva – SP, Edimar Aparecido de Freitas, quando um estudante de 18 anos, invadiu a escola onde estudava, atirou em 5 pessoas e se matou. Obeso desde a infância ele não suportava mais as gozações feitas por um grupo de colegas.
Como o Bullying acontece em Instituições escolares de diversos níveis, o professor do ensino superior também deve refletir principalmente sobre sua prática educativa e este problema avassalador. As ações pedagógicas devem se flexibilizar à teoria competente, caso contrário ela não terá sentido. “Acredito que temos tratado nossos alunos como generalidades abstratas, esquecendo suas histórias e identidades. Quem é o aluno que chega no ensino superior hoje? Quais são as suas expectativas?” (SOUZA, 2002, p. 32). Como um professor universitário pode intervir nesta prática no cotidiano da Instituição do ensino superior?
Para realizar tal trabalho é necessário antes de tudo, conhecer e conseqüentemente, identificar o Bullying.
II. Breve Conceito de Bullying
Bullying é uma palavra de origem inglesa que não tem tradução específica para a língua portuguesa. É derivada do verbo inglês “bully”, que significa usar de poder para subordinar alguém. No Brasil, seu significado compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetitivas adotadas por uma ou mais pessoas contra outra, numa relação desigual de poder. Dentre estas opressões aparecem apelidos, trotes, todos os tipos de abusos, violências físicas e verbais, intimidações, piadinhas, xingamentos, furtos, discriminações, ameaças, assédios, exposição da vítima a situações ridículas, racismo, xenofobias, alienação e outras mais. O índice de maior ocorrência do Fenômeno Bullying, de acordo com Cléo Fante, acontece dentro de Instituições Educacionais, mais especificamente entre crianças de 7 a 18 anos, tendo como protagonistas: a vítima, o agressor e o espectador. Entretanto, evidências comprovam que ele é reconhecido em todos os lugares onde aconteçam relações interpessoais.
As causas do Bullying variam entre falta de base familiar; ausência de limites das crianças; aumento da violência que é freqüente e insistentemente tratada pela mídia de forma natural, sites de relacionamento que o propagam, etc.
III. Interferências do Bullying na Universidade
Este grave problema social também atinge o ensino superior, exigindo de seus docentes certas reflexões e ações. “Os campos da educação superior ignoram uma grande massa da população, tanto por omissão quanto pela ação” (BUARQUE, 2003, p.14). Esta omissão do professor e da maioria das Instituições de ensino superior tem contribuído para que o Bullying se alastre rapidamente, comprometendo o nível de desenvolvimento dos estudantes.
O trote universitário, por exemplo, é uma forma de Bullying, em que a vítima pode ou não tolerá-lo, e muitas vezes o faz para não ficar antipatizado pelo grupo. Alguns alunos chegam até a abandonar os estudos devido a bárbarie dos trotes realizados. Neste sentido pode-se afirmar que a evasão escolar é uma conseqüência do Bullying.
Atitudes abusivas por parte de professores, que utilizam o recurso “avaliação” para punir aqueles que pensam ou agem de forma diferente da imposta, devem dar lugar a avaliações significativas com o objetivo de reestruturar o planejamento das aulas, alterar a metodologia e até a postura do professor e, jamais como opressão ao aluno.
São comuns as situações em que estudantes de Cursos de Medicina, Direito, Odontologia e Engenharia discriminam cursistas de outras áreas. Neste caso, cabe ao professor intervir diretamente sobre estes grupos, lembrando-lhes sobre a importância de cada profissional na sociedade e estimulando a valorização do humano. Negligências neste sentido têm causado tragédias em vários países. Em 2007, um jovem estudante de 23 anos, aluno do último ano do curso de Letras, invadiu a Universidade Virgínia Tech, nos EUA. No Campus, ele se dirigiu à residência estudantil e abriu fogo, matando 2 estudantes. Em seguida, caminhou até o prédio da Faculdade de Engenharia e atirou na cabeça de um professor, partindo depois para os alunos, matando 32 e ferindo 29 pessoas, suicidando em seguida.
A xenofobia e o racismo presentes em várias instituições merecem uma atenção especial dos docentes. No Brasil em 2007, supostos vândalos atearam fogo à porta do alojamento de quatro alunos africanos na Casa do Estudante Universitário (CEU), na Universidade de Brasília (UnB).
São comuns também, os casos de cursistas serem vítimas deste fenômeno em relação às pressões psicológicas sofridas quanto aos trabalhos científicos, atitudes arrogantes e falta de apoio dos orientadores - principalmente por diversidades ideológicas - e toda a intimidação causada pela banca examinadora dos Trabalhos Científicos. A utilização de materiais que elevem a autoestima dos candidatos, precedendo as apresentações de TCCs, contribui muito para que eles possam realizar uma boa socialização. Ainda em relação aos TCCs, o Bullying muitas vezes acaba travando a produção intelectual do pesquisador, impedindo-o de expor suas idéias, ler obras de determinado autor ou citar determinados pensamentos, comprovando sua condição de vítima. “Uma dessas pessoas desmedidas e raivosas proibiu certa vez estudante que trabalhava dissertação sobre alfabetização e cidadania que me lesse. ‘Já era’”. (FREIRE, 2007, p.35).
A marginalização social dentro da Universidade é uma característica comum nas vítimas do fenômeno que está intimamente ligado a posições desiguais de poder e apresentam conseqüências para além das instituições em questão, se estendendo por toda a sociedade.
IV. Bullying e a metodologia do docente universitário em sala de aula
O professor deve saber reconhecer um estudante que sofreu ou sofre algum tipo de Bullying. O docente deverá observar os seus alunos, dedicando atenção especial àqueles que apresentarem qualquer característica que indique repressão e estabelecer um laço de afetividade com eles. A utilização de dinâmicas que abordem regras de convivência e respeito, envolvendo momentos reflexivos, ajuda muito quando o caso é diagnosticado no início. Uma habilidade que o docente deve desenvolver antes de qualquer ação é o ouvir ativo, captando o que há por trás da fala e o que o corpo do aluno está revelando. Souza (2002) faz o seguinte comentário sobre o ouvir ativo:
O processo de decodificação dos sentimentos na fala do aluno é crítico no processo de ouvir ativo. O ouvir ativo não é uma mágica, algo que o professor tira do chapéu – é um método específico para colocar em prática um conjunto de atitudes em relação ao aluno, a seus problemas e a seu papel como facilitador. (SOUZA, 2002, p. 68 e 69)
Ao ouvir ativamente seu aluno o professor poderá perceber que no âmbito da saúde física emocional há uma queda na resistência imunológica da vítima. Nestas situações, além de adequações metodológicas, o docente poderá sugerir que o aluno procure ajuda médica especializada.
O renomado educador Paulo Freire deixou em seu legado, inúmeras reflexões sobre atitudes opressivas. Ao lutar por uma mudança radical na educação, Freire acreditava que todos os cidadãos são iguais, tem direito de ir e vir, de pensar devem respeitados e ter criticidade suficiente para discernirem o certo e o errado e conhecer seus direitos. Portanto, um universitário tendo, que se tornar uma marionete de seus colegas ou do sistema educacional repressor, pode se revoltar invadir a universidade e cometer atos de violência contra seus opressores sejam eles quem for.
Diante de tal situação se torna necessária uma intervenção direta sobre este tema de preocupação mundial. Mudar a cultura perversa da humilhação e da perseguição no ambiente de aprendizagem, está ao alcance de todo profissional envolvido na educação. A complexidade do tema exige que o docente busque informações em todos os aspectos, a fim de esclarecer o assunto aos alunos. Os trabalhos envolvendo esta temática devem ser realizados por toda a equipe docente e para tal, a interdisciplinaridade é uma forte aliada no processo de conscientização dos estudantes.
Em reuniões pedagógicas o assunto deve merecer atenção especial, os docentes relatam incidentes ocorridos em classe e como fizeram as intervenções e também solicitam à Instituição, que ofereça palestras, mesas redondas, cursos de extensão e Especialização sobre o Bullying.
Como o Bullying também acontece de forma virtual é necessário que os professores mantenham diálogo reflexivo constante com a turma, visando alcançar a criticidade dos alunos sobre jogos, sites de relacionamentos, e-mails, e diversas outras formas de se agredir ou ser agredido virtualmente.
Um Programa de conscientização e combate ao racismo e a Xenofobia Institucional, evitará atitudes preconceituosas, mesmo que não intencionais. Este trabalho poderá ser realizado com filmes, textos, reportagens, etc.
Abolir definitivamente o trote abusivo, através da conscientização dos alunos e de sugestões de trotes solidários, enfatizando uma recepção amigável aos novatos.
Respeitar a individualidade, o próprio pensamento e a liberdade de expressão, valorizando sua cultura e seu tempo-espaço de cada aluno.
Cury faz a seguinte reflexão sobre uma forma revolucionária de educar:
Bons professores educam para uma profissão, professores fascinantes educam para a vida. Professores fascinantes são profissionais revolucionários. Eles mudam paradigmas, transformam o destino de um povo e um sistema social sem armas, tão somente por prepararem seus alunos para a vida através do espetáculo de idéias. (CURY, 2003 p. 79).
Educar para uma vida mais humana, em que o cidadão reconheça seu lugar e valor na sociedade, não é tarefa para um dia e tão pouco para um conteúdo específico... É responsabilidade de todos que se intitulam seres humanos e, principalmente, professores. Enquanto a docência não assumir seu papel de educar para a vida, problemas sociais graves como o Bullying, continuarão a tirar a tranqüilidade e a vida de nossos jovens.
V. Considerações finais
Nas últimas décadas a permissividade na educação cresceu muito e com isso o aluno ficou muito livre, gerando a ausência de limites. Completamente sozinho e sem rumo, o jovem tende a aliar-se a grupos que lhe permitam sentir segurança e ao mesmo tempo, liberar sua fúria contida pela necessidade de chamar a atenção para si. Neste caso, o sujeito em questão se transformará em um agressor. Todavia, se ele não conseguir exteriorizar seus sentimentos poderá se transformar em uma vítima, e em ambos os casos o protagonista é, também uma vítima de um aglomerado de situações experimentadas por ele. Vítima e agressor ingressam no Ensino Superior e lá continuam suas práticas.
Quanto mais rápido o Bullying for reconhecido como o grave problema que é, mais chances poderão surgir para combater este quadro horrível em que se encontram os envolvidos neste fenômeno. É necessário que todos envolvidos com a Educação se conscientizem sobre a gravidade do problema e elaborem um Plano de ação a ser desenvolvido no ambiente escolar. Criar uma cultura anti-bullying deve ser responsabilidade de todo cidadão. Ações que despertem os alunos para o respeito, amor, companheirismo, ética, criticidade, compreensão, amizade, valores humanos, harmonia, sabedoria, e tantas outras virtudes - que atualmente se encontram totalmente desvinculadas dos conteúdos escolares - têm que ser levadas diariamente ao ambiente educacional. Estas mesmas ações devem ser desenvolvidas entre os docentes, visando amenizar o abuso de poder muitas vezes causado pelos títulos de professor, especialista, mestre ou doutor, que acaba oprimindo o aluno.
Ouvir um aluno em suas queixas ou particularidades pode identificar vítimas, agressores, evitar que o fenômeno se torne um círculo vicioso e, conseqüentemente, preservar a vida de jovens estudantes que certamente serão protagonistas de uma realidade bem diferente da que o Bullying reserva aos seus praticantes e envolvidos.
VI. Referências:
CONSTANTINI, Alessandro. Bullying, como combatê-lo? São Paulo, SP: Itália Nova, 2004.CURY, Augusto. J. Pais Brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro, R.J: Sextante, 3 ed.. 2003.FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. 2 ed. Ver. Campinas, SP: Verus, 2005.FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 13 ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1983.______.Pedagogia da Autonomia. 36 ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 2007.______.Educação como prática de liberdade. 3 ed. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1971.SOUZA, T. L. Vera; SILVA, Moacyr da; FURLANE, T. M. Lúcia; SCOZ, Beatriz; MAHONEY, A. Abigail. As relações interpessoais na formação de professores. São Paulo, SP: Loyola, 2002.BUARQUE, Cristovam. A universidade numa encruzilhada. Trabalho apresentado na Conferência Mundial de Educação Superior – UNESCO - Paris, 23 a 25 /06 /2003.FANTE, Cléo. Palestra: Fenômeno Bullying. Apresentada na FMTM – Uberaba, MG – 2006BONFANTI, Cristiane. Incêndio Criminoso durante a madrugada. www.secom.unb.br , disponível em 28/12/07LEITE, Tainah. Trote e violência: www.ufmg.br , disponível em 04/12/07.Massacre na Virgínia. www.folha.com.br , disponível em 23/12/07.
Última atualização em Sex, 20 de Março de 2009 09:42


Escrito por Angela Adriana de Almeida Lima
Sáb, 21 de Fevereiro de 2009 07:49

sábado, 27 de março de 2010

Professor vítima de bullying preferiu morrer a voltar ao 9º B


12.03.2010 - 07:34 Por Romana Borja-Santos

Na véspera das aulas com aquela turma, Luís ficava nervoso. Isolava-se no quarto e desejava que o amanhã não chegasse. Não queria voltar a ouvir que era um "careca", um "gordo" ou um "cão". Não queria que o burburinho constante do 9.º B e as atitudes provocatórias de alguns alunos continuassem a fazê-lo sentir aquela angústia. O peso no peito. O sufocante nó na garganta. Luís não era um aluno. Tinha 51 anos e era professor de Música na Escola Básica 2.3 de Fitares, em Rio de Mouro, Sintra. Era. Na semana antes do Carnaval, decidiu que não voltaria a ser enxovalhado. Pegou no carro e parou na Ponte 25 de Abril. Na manhã do dia 9 de Fevereiro, atirou-se ao rio.

Luís não avisou ninguém do acto radical. Mas radicalizou, segundo a família e os colegas, os apelos junto da direcção da escola para que resolvesse a indisciplina, em particular naquela turma. Fez várias participações que não terão tido seguimento. O PÚBLICO tentou ouvir a directora da escola, que justificou que só presta declarações mediante autorização da Direcção Regional de Educação de Lisboa. Fizemos o pedido e não recebemos resposta. Contudo, foi possível apurar que a Inspecção-Geral da Educação tem participações do alegado incumprimento da legislação sobre questões disciplinares por parte da direcção daquela escola.

Personalidade frágil
Na escola, impera o silêncio e os funcionários fazem um leve encolher de ombros. Alguns, sob anonimato, asseguram, tal como a família, que Luís era alvo de bullying e estava "profundamente desesperado e deprimido". A irmã de Luís, também professora, admite que o irmão era "uma pessoa complicada, frágil e reservada", mas assevera que era "um professor competente", cujos apelos "a escola ignorou". "Apenas lhe propuseram assistir a aulas de colegas para aprender a lidar com as provocações", diz.

A irmã descreve a profunda tristeza do professor nos últimos meses, ao longo dos quais "desabafou muito" com os pais, com quem ainda vivia. Nunca deu indícios do acto. Foram encontrados, depois da morte, no seu computador. "Se o meu destino é sofrer dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de mim - e não tendo eu outras fontes de rendimento -, a única solução apaziguadora será o suicídio." A frase encontrada não deixa dúvidas. Há vários desabafos escritos em alturas diferentes que convivem lado a lado com as participações sobre alguns alunos.

Luís somava à Música uma licenciatura em Sociologia e chegou a ser jornalista durante alguns anos. Era também cronista no Boletim Actual da Câmara de Oeiras, onde, no ano passado, dedicou algumas palavras aos problemas das escolas: "O clima de indisciplina nas escolas está a tornar-se insustentável. E ainda há quem culpe os professores, por falta de autoridade. Essas pessoas não fazem a mínima ideia do ambiente que se vive numa escola. Aconselho-as a verem o filme A Turma". No último boletim, o autarca Isaltino Morais dedicou-lhe um texto onde recorda a "perspicácia e apurado sentido crítico" de Luís.

Os alunos dividem-se sobre o professor, mas concordam que "era muito calado" e que "não convivia muito nem com alunos nem com professores". Uns recordam com saudade as aulas onde puderam tocar instrumentos e ver filmes relacionados com música e dança. Outros insistem que "ele era estranho" e que "não impunha respeito". Mas não negam que eram "mal comportados". "Portava-me sempre mal, mas não era por ser ele. Somos assim em todas as aulas, é da idade", reconheceu um dos alunos que tiveram mais participações por indisciplina.

Outra aluna, a única que, no fim das aulas, ficava para trás para conhecer melhor o silêncio de Luís, lamenta a partida "prematura" e arrepende-se de não ter ficado mais tempo a conversar com ele. "Tive medo do que as pessoas podiam dizer se me aproximasse. Sinto-me muito mal por não ter ajudado mais. Uma vez arrancámos-lhe um sorriso. Quando sorria era outra pessoa."

Fonte: www.publico.pt

Bullying não é brincadeira


Risadinhas de mau gosto, apelidos, cochichos, xingamentos podem provocar danos irreparáveis pelo resto da vida.

Joana tinha 13 anos e era uma das mais quietas e bem comportadas da turma. Era novata na escola, mas já colecionava alguns bons amigos. Brincava mas também queria namorar, como todas as garotas da sua idade, e pensava no futuro: queria ser médica ou advogada.

Vez por outra, algo atrapalhava a sua rotina de adolescente: por causa de uma deficiência na perna e nos lábios - consequencia de um parto a fórceps mal conduzido, percebia no fundo da sala de aula dedos apontados para ela, risadas suspeitas, palavras cochichadas.

Com o tempo, os apelidos ficaram mais claros, mais frequentes e ela identificou a origem: Rafael, também novato, também bem comportado. A professora pedia silêncio. Joana resolveu protestar, levou o caso para a diretoria e ficou acertada uma conversa com os pais dos dois.

Mas a medida teve efeito contrário, os xingamentos ficaram mais insistentes até o ponto em que ela não conseguiu mais suportar. Armada de uma faca que trouxera de casa, conseguiu golpear Rafael pelas costas. Depois empalideceu, ficou muda e só conseguiu emitir uma frase na presença dos policiais: "Eu queria matá-lo".

A história foi inspirada livremente no caso ocorrido semana passada em um colégio público do Alecrim, em Natal, e que chamou atenção da sociedade para um tipo de violência tão silenciosa quanto perigosa: o bullying.

"O bullying se trata de agressão constante com características predominantemente psicológicas, mas que também pode se expressar como violência física, comum no ambiente escolar", explica o psicólogo e doutor em educação, Herculano Campos.

Ele já orientou trabalhos sobre bullying - que ainda não ganhou tradução para o português - em escolas particulares de Natal e percebeu que o assunto é praticamente desconhecido pelo corpo pedagógico. "Eles em geral não sabem nem do que se trata. Nenhuma escola tem trabalho sistematizado".

Nada a ver com a frequencia dos casos dentro da sala de aula. O delegado Júlio Costa, da Delegacia Especializada em Atendimento ao Adolescente Infrator, é procurado diariamente por pais que querem prestar queixas de bullying e garante que esse é o tipo mais comum de violência nessa faixa etária.

As formas da agressão mais comuns são xingamentos, apelidos, isolamento, fofoca, ameaças e exposição ao ridículo. As razões são as mais diversas e tolas possíveis: é porque o sujeito usa óculos, ou é muito preto, ou muito branco, ou gordo, ou muito magro... "Ali se estabelece uma relação de poder, em que um colega quer mostrar que pode dominar o outro", explica Herculano Campos.

Nos meninos - onde o bullying é mais frequente - a violência pode vir associada à agressão física e roubo de dinheiro e lanche, por exemplo. Na sexta-feira (11), o delegado registrou a ocorrência de um menino que recebia sistematicamente soco nas costas, chute nas pernas, tapa no rosto, entre outras agressões.

"As escolas também devem ser responsabilizadas. Às vezes os próprios professores participam do bullying", denunciou Júlio Costa, citando uma diretora que pediu a presença da Polícia Militar, definitivamente, nas escolas. "É a prova de que o sistema educacional está falido".

Há também os casos de cyberbullying, em que o agressor cria página na internet com o objetivo de prejudicar moralmente o colega. Recentemente, o delegado iniciou um processo que culminou com a retirada de uma comunidade do Orkut em que a criadora e mais 26 "amigos" se divertiam difamando uma colega.

Para que seja caracterizado o bullying, é preciso que o indivíduo sofra com as investidas dos outros. "Na brincadeira, todos curtem, inclusive o objeto da brincadeira", explica o psicólogo.

A decisão de esfaquear alguém é rara. Geralmente, as vítimas reagem de maneira silenciosa, com desânimo, queda no aprendizado, vontade de mudar de escola, depressão e até suicídio. "É complicado você lidar com a agressão psicológica exatamente pelo fato de ela não aparecer, de ser velada".

De acordo com o delegado, os agressores aparecem em famílias desestruturadas, com relação afetiva conflituosa e onde os pais não oferecem limites às crianças. Muitas vezes eles repetem um comportamento que aprenderam em casa.

O psicólogo lista três estratégias que devem ser tomadas pelos educadores em caso bullying: não minimizar o problema, identificar o tipo de sofrimento do aluno e estabelecer um protocolo de enfrentamento do problema.

Outra medida que ajudaria no combate à violência seria enquadrá-la como crime. "Nossas leis só veem o ato em si, e não a reação de quem é agredido. Por isso, apelido não é crime".

Extraído de: Nominuto.com Setembro 20, 2009


Autor: Vinculado ao Nominuto.com

Bullying – A violência entre iguais

“João (nome fictício), 14 anos, era excelente aluno. Levou a peito a atitude e os sms dos amigos. Em Fevereiro suicidou-se. A família aponta esta como grande causa, apesar da escola rejeitar esta ligação.”

Uma notícia recente que saiu hoje na revista Domingo de Correio Da Manhã tomou tanta importância que foi o tema de capa desta revista.
Esta notícia é só mais uma prova de como se podem tornar graves as consequências que o bullying toma.

Suicídio é uma das piores consequências que este problema pode provocar nas vítimas.
Existem outras, tais como: as vítimas ganham uma baixa auto-estima; ganham sérios problemas de relacionamento; isolamento; a própria vitima pode tornar se agressiva e passar a praticar o bullying também como paga daquilo que sofreu ou que tem estado a sofrer; frustração, entre outras.

CHA

quinta-feira, 25 de março de 2010


Foto: Getty Images

Seu filho pode sofrer bullying escolar?



Presente nas escolas do país, saiba como detectar o problema e deixar seu filho longe da agressividade

O bullying é um termo que denomina agressões físicas ou psicológicas
Geralmente iniciado por crianças e adolescentes aparentemente mais seguros de si, que zombam de colegas mais frágeis e tímidos, o bullying escolar é um termo em inglês utilizado para denominar agressões físicas ou psicológicas que ocorrem de um aluno para outro, repetidas vezes e intencionalmente. Cada vez mais notado nas escolas brasileiras por professores e pais de alunos, o bullying pode afetar a vida das crianças a partir dos cinco anos de idade. E requer muita atenção.Geralmente, as vítimas do bullying são crianças mais quietas, pouco sociáveis e que não possuem muita habilidade para reagir a agressões. A fase mais recorrente do problema é a partir dos nove ou dez anos, quando a criança mais agressiva e praticante do bullying procura se reafirmar perante o grupo, adquirindo um status social de maior destaque. “O aluno que pratica Bullying costuma ser mais inseguro do que parece, mas se sente melhor diante da submissão do outro”, explica Luciana Blumenthal, psicoterapeuta da Clínica Multidisciplinar Elipse, em São Paulo. O que diferencia o bullying das brincadeiras e divergências normais entre crianças é que ele acontece repetidas vezes e não tem uma motivação clara. “Se tiver uma razão, por exemplo, como um colega revidar porque foi chamado de algo que não gostou, não é bullying”, explica Soraya Escorel, Promotora de Justiça de João Pessoa, na Paraíba, e organizadora do 1º Seminário Paraibano sobre bullying escolar, que aconteceu em 2008. No ano de 2002, a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), hoje extinta, realizou um programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes de 11 escolas da cidade do Rio de Janeiro. De acordo com o levantamento realizado, entre 5.875 estudantes de 5ª à 8ª série do município, 40,5% admitiram já terem se envolvidos em caso de bullying, sendo 12,7% autores, 16,9% alvos, e 10,9% em ambos. O médico pediatra Lauro Monteiro Filho, idealizador da ABRAPIA e atual editor do Observatório da Infância, afirma que o bullying atualmente existe em muitos lugares e deve ser prevenido por todos os envolvidos. “Além de a escola ter o dever de se comprometer com o problema, porque senão não há uma solução real, é necessária uma participação da família do agressor e do agredido”, afirma o especialista. Agressão virtualCom o desenvolvimento da tecnologia, atualmente o bullying tomou também proporções virtuais. De acordo com estudo realizado por Ann Frisén, professora de psicologia da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, cerca de 10% de todos os adolescentes, entre 12 e 15 anos, são vítimas do cyberbullying. Neste caso, o problema pode se tornar ainda mais sério. As vítimas deste tipo de agressão não possuem escapatória. Quando o bullying acontece de maneira mais convencional, segundo a especialista, os alvos podem ser deixados em paz nos momentos em que estão fora da escola, como nos finais de semana e feriados. “Porém, no caso do cyberbullying, as vítimas podem ser agredidas por meio de SMS e websites, tornando ainda mais difícil de identificar o agressor”, explica Frisén. Por que o bullying acontece? Segundo Cleo Fante, educadora e autora do livro “Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz” (Verus Editora), o bullying pode surgir por diferentes motivos: carência afetiva, ausência de limites, práticas de maus-tratos em casa, entre outros. E as consequências destes fatores, tanto para o agressor como para a vítima, podem ser gravíssimas. “As vítimas deste fenômeno podem sofrer desinteresse pela escola, déficit de concentração e aprendizagem, queda do rendimento, absentismo e evasão escolar, além de baixa na auto-estima, estresse, transtornos psicológicos, depressão e suicídio”, escreve a especialista. Já os agressores acabam se distanciando dos objetivos escolares, passam a supervalorizar a violência e projetam esta postura para a vida adulta. O que fazer se seu filho sofre ou pratica bullying? Os sinais dados pelos envolvidos com o bullying são vários, principalmente entre as vítimas da agressão. Veja abaixo uma série de sintomas que podem ser notados e descubra como agir para evitar que as proporções do problema aumentem. Crianças que são alvos de bullyingComeçam a evitar a escola e inventam desculpas para não ir, podem dizer que não estão se sentindo bem, por exemplo Costumam evitar situações sociais e fogem de qualquer outro acontecimento escolar que não seja obrigatóriaContam os dias que faltam para as aulas terminarem Se ele sofre na escola, pode colocar todo o sofrimento para fora em casa, se mostrando extremamente irritado com os pais e irmãosPede para trocar de escola constantementeApresenta um rendimento escolar mais baixo do que o observado anteriormente Crianças que são agressores Mesmo que pareçam muito bem e seguros, os agressores fazem comentários com soberba, colocando alguém como inferior, desvalorizando o próximo para se sentir melhorÉ uma criança ou adolescente mais irônico, que faz piadas dos outros, muitas vezes por estar inseguro consigo mesmo
O que fazer? Se uma criança está sofrendo ou praticando bullying, é preciso reportar o assunto à escola para tratar o caso de uma maneira ampla – pais, alvo, agressor e orientadores pedagógicos. É importante que a escola não admita este tipo de comportamento e o trate como um assunto sério. Além disso, é essencial que o diálogo seja sempre mantido integralmente entre pais e filhos. Com um bom canal de comunicação, as crianças podem se abrir e tornar a resolução do problema mais fácil. Para Blumenthal, buscar a ajuda de um profissional da área terapêutica pode ajudar a criança agredida a se sentir melhor diante dos colegas. Caso o bullying vire de fato uma ameaça à integridade física e moral da criança, a Promotora Soraya Escorel indica que o caso seja denunciado à Vara da Infância e Juventude mais próxima.

Fonte:Renata Losso, especial para iG São Paulo 25/02/2010 12:44
A princesa Aiko, do Japão, em foto de 17 de outubro de 2009 durante competição na escola Gakushuin, em Tóquio. (Foto: AP)



Após reclamar de ter sofrido bullying, princesinha do Japão volta à escola




Aiko, de 8 anos, se disse intimidada pelos colegas, mas a escola negou.Ela se queixou de dores e ansiedade e ficou quase uma semana sem ir.


Do G1, com agências internacionais


A princesa Aiko, filha única do herdeiro do trono do Japão, Naruhito, voltou nesta segunda-feira (8) à escola, acompanhada de sua mãe, a princesa Masako, após seis dias sem assistir às aulas por causa do suposto caso de 'bullying' por parte de um grupo de crianças.Aiko, de 9 anos, voltou à famosa escola Gakushuin de Tóquio com a princesa, que a esperou no fim da aula, informou a Agência da Casa Imperial. A menina tinha se queixado de dor de estômago e ansiedade, o que fez com que não fosse à escola desde segunda-feira da semana passada. Aparentemente, um grupo de alunos zombou de vários colegas, entre eles a princesa Aiko, o que levou o Palácio Imperial a intervir e pedir medidas aos responsáveis do colégio, informou a agência "Kyodo". A diretoria da escola negou.

A princesa é a filha única de Naruhito e de sua esposa, a princesa Masako, que sofre há anos de depressão induzida pelo estresse. Ela é conhecida no país como "a princesa triste".

A Lei de Sucessão do Japão estabelece que só um homem pode se tornar imperador, o que impede que Aiko seja herdeira do Trono.

O próximo na linha de sucessão é o príncipe Hisahito, de 3 anos, terceiro filho do irmão mais novo de Naruhito, o príncipe Akishino, e de sua esposa, a princesa Kiko.


quarta-feira, 24 de março de 2010


Abril 2008

Bullying: é preciso levar a sério ao primeiro sinal

Esse tipo de violência tem sido cada vez mais noticiado e precisa de educadores atentos para evitarem consequências desastrosas.

Andréia Barros, de João Pessoa (PB)

Entre os tantos desafios já existentes na rotina escolar, está posto mais um. O bullying escolar - termo sem tradução exata para o português – tem sido cada vez mais reportado. É um tipo de agressão que pode ser física ou psicológica, ocorre repetidamente e intencionalmente e ridiculariza, humilha e intimida suas vítimas. "Ninguém sabe como agir", sentencia a promotora Soraya Escorel, que compõe a comissão organizadora do I Seminário Paraibano sobre Bullying Escolar, que reuniu educadores, profissionais da Justiça e representantes de governos nos dias 28 e 29 de março, em João Pessoa, na Paraíba. “As escolas geralmente se omitem. Os pais não sabem lidar corretamente. As vítimas e as testemunhas se calam. O grande desafio é convocar todos para trabalhar no incentivo a uma cultura de paz e respeito às diferenças individuais”, complementa.

A partir dos casos graves, o assunto começou a ganhar espaço em estudos desenvolvidos por pedagogos e psicólogos que lidam com Educação. Para Lélio Braga Calhau, promotor de Justiça de Minas Gerais, a imprensa também ajudou a dar visibilidade à importância de se combater o bullying e, por consequência, a criminalidade. "Não se tratam aqui de pequenas brincadeiras próprias da infância, mas de casos de violência, em muitos casos de forma velada. Essas agressões morais ou até físicas podem causar danos psicológicos para a criança e o adolescente facilitando posteriormente a entrada dos mesmos no mundo do crime”, avalia o especialista no assunto. Ele concorda que o bullying estimula a delinquência e induz a outras formas de violência explícita.

Seminário - Organizado pela Promotoria de Justiça da Infância e da Adolescência da Paraíba, em parceria com os governos municipal e estadual e apoio do Colégio Motiva, o evento teve como objetivo, além de debater o assunto, orientar profissionais da Educação e do Judiciário sobre como lidar com esse problema. A Promotoria de Justiça elaborou um requerimento para acrescentar os casos de bullying ao Disque 100, número nacional criado para denunciar crimes contra a criança e o adolescente. O documento será enviado para o Ministério da Justiça e à Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Durante o encontro também foi lançada uma publicação a ser distribuída para as escolas paraibanas, com o objetivo de evidenciar a importância de um trabalho educativo em todos os cenários em que o bullying possa estar presente – na escola, no ambiente de trabalho ou mesmo entre vizinhos. Nesse manual, são apresentados os sintomas mais comuns de vítima desse tipo de agressão, algumas pistas de como identificar os agressores, conselhos para pais e professores sobre como prevenir esse tipo de situação e mostram-se, ainda, quais as consequências para os envolvidos.

Em parceria com a Universidade Maurício de Nassau, a organização do evento registrou as palestras e as discussões – o material se transformará num vídeo-documentário educativo que será exibido nas escolas da Paraíba, da Bahia e de Pernambuco.

Fonte: Nova Escola 2008